sexta-feira, 3 de outubro de 2008
SORTE
Brincam à vida
Largam balões de ensaio
Desenham no céu balizas
Marcam golos com a mão
Sem penaltis
Sem árbitros
Bela imprudência
Mágica sedução
Encantam-se no fingir
Passam um pelo outro na folia
De mãos dadas correm
Na corda gigante saltam
Mascaram as caras na fantasia
Coloram a noite de devaneio
Amam-se na descoberta
Descobrem-se no Amor
Chama-se Pai
Chama-se Filho
Dois meninos de pó, soprados pela sorte de quem brinca…
JP
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
CAIR
Dobramos de mãos coladas a curva
Pontapeamos a pedra sorrindo
Engolimos beijando o asfalto
Rompemos em abraço a vantagem
Oscilante e eminente a tua queda
Do alto acusas a vertigem
Partes à partida em voo louco
Agarras de verdade a rede que te protege
Vês-me caindo eu crescendo
Acorda-te o susto
Como nos sonhos pesados
Antes mesmo de bateres no chão
Mas acordas, que bom...
JP
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
DOIS
Passei sem me dar conta das tuas contas
Revelado está o paralítico
Mordem em vigor as cores que o pintam
Sou eu aqui, nu de semelhanças.
Quente do agasalho, por ti longe deixado.
Meia-luz te indica.
Afasto ramos e tramas. E chego.
Perto te dás
Ao lado te apraz
A força que mexe os dois
Eu e tu, lado a lado com a paz
JP
MARCO
Lento ao relento te espio
Apertas nas pernas e na vida a ideia
Cobres-me de ouro num olhar
Aquecem-me os teus cabelos no frio do luar
Sabes a noite escapada
Foragida de tanta luz
Orquestras a chegada
Num leve sorriso
Espantas o negro que teima em ficar
Defendes a doirado a prata lunar
Ergues luminosa o sol para vingar
JP
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
TUDO
Tanto que jamais será dito
Tanto que jaz no sonho desfeito
Tanto que sobra
Tudo o que se promete
Em apeadeiros ignorados
Com vista na estação definitiva
Que mora longe
Que demora tanto
Pouco importa o que fizeste de mim.
Importa é o que farei com o que de mim fizeste…
JP
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
PUNHADO
Aperta a saudade que trago
Orvalha-me as pestanas, a nostalgia
Tendo a verter o grito ensopado
Deixo-o cair
Deixo-me cair
Deixo-me
Desprendidamente solto
Palpo com a ponta dos dedos o teu contorno
Decoro-te sentido no sentido
Ergo um punhado de ti em pó
Largo-te no ar e espero a sorte à sorte
Abates-te em mim de leve
Tropeças em mim na vida
JP
CREPÚSCULO
Virada de frente atacando
Retoco o vigor esmorecido
Espalho engodo para te distrair
E salvo-te em braços caídos
Dás de ti
Dás-te a mim
Dás
Distante daqui
Longe do adquirido saber
Iludimos ilusões
E seguramos teimosa e firmemente
A pálpebra da vida que teima em fechar
Teimo em ver e ver-te nesse lugar secreto
Onde o Sol ama a Lua no crepúsculo
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
BEIJO POR DENTE
Contamina os vestígios deixados
Ainda ecoam os gritos mútuos
Presos à parede nua de quadros
Quarentena compulsiva a que te sujeitas
Para que te servem os dentes, quando a vida que vives não é nunca mordida?
Morde como beijas, vá!
JP
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
SOMBRA
Onde vestimos o disfarce
Sabes-me tanto a pouco
Aprendeste a prender aos pés
A sombra presa a ontem
Serves o atraso em cálice
Ensurdeces no toque a dois
Brindas a nu sem beber
Amas em aperto o cristal que brilha
Fixamo-nos na mira sem pestanejo
Olhas no chão a sombra prometida à elevação
Assusta-nos a incapacidade de a levantar
JP
terça-feira, 5 de agosto de 2008
?
Que sombra traz a chave?
Que revelação escondes?
E eu?
Terei eu o código?
Que guardas no fundo de ti?
Que força é essa?
Porque agarras o peito que se rasga?
Será tua a vontade?
Serás mesmo tu?
De que vale o que te vale?
Desejas que se decifre?
E depois?
Clamarás de peito aberto a abertura?
Eu temo abrir…
Temo abrir-te.
Eu temo o vazio…
Temo ver-te vazia.
O valor de alguns tesouros é desconhecer o seu interior.
Derreto nas mãos a chave para que não vingue a tentação.
JP
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
AROMA
Da mais vazante de todas
Aquela que se solta no enrolar
Que se prende ao inspirar
Que é travada como Puro Cubano
Sal de lágrima e pele
Cola de areia e de vento
Marcas de água e de sol
Olhos serrados de poente
Luz do ocaso em reflexo de Mar
Ver de longe o que de perto espreita…
JP
quinta-feira, 31 de julho de 2008
terça-feira, 29 de julho de 2008
sexta-feira, 25 de julho de 2008
STEADY
Flutuas em terceiro braço
De carne a mais de mim feita.
Pinto de ti o tal quadro que cantas
Em escancarado diafragma…
Namoras comigo a sós,
Assumes comigo “nós”,
E danças-me, levando-me
Como íman que tudo contrai,
Da coluna à emoção.
Completas-me em verdade carnal,
Até em escuro te foco.
Escorregas no ar enquadrado
Como flor de grosso caule ao vento.
E bailas comigo, até ser dia…
Tanto peso e sigo sem te carregar,
Porque a mim me levas…
JP
quarta-feira, 23 de julho de 2008
IR
És pétala caída, não arrancada
Perdeste a pigmentação até à transparência
Frágil te encontras, pétala.
Quem te viu um dia, em alicerce coroal, não esquece…
Eu, não esqueço.
Resolvo em mim, o desejo que nutro.
Ganha cor, vamos!
Fortalece-te fragilizando-te, pétala!
Descerra a seiva que te resta em paz,
E volta a envolver a coroa floral,
Que um dia brotou em leves partículas
Aromas quentes da pele
E cintilantes da água dos olhos
Não é o que aí vem que nos faz ir,
É o ir, que nos mostra o que vem de lá…
.
domingo, 20 de julho de 2008
ESTRADA
Sorvo-te em desenho a tinta
Sangue sangrado de mim
Ilustras-te em tela chapada
Gastas-me a retina com novas cores
Entreabertos os olhos para te receber
Picados por cabelos ventilados
Vens comigo em viagem lenta e adormecida
Acorda-nos o travão do propósito
Devolve-nos o senso parado e vital
Pena é, que a estrada nos obrigue a curvar de quando em vez...
JP
sábado, 19 de julho de 2008
LER
quinta-feira, 17 de julho de 2008
BOA NOVA
Revisita o futuro meditado
Atesta o vácuo da incógnita
Rejubila o brilho renovado da vista
Que traz nitidez ao vestígio
Beija de perto e por cima
A aura que sopra
Aceita em vigor a festa
Treme em consciência
Pelo prazer prometido
Vem de leve ao encontro
Pontua em cada passo dado
Vem pesada em abraço
Sela em marca de água o embate
E vacila como eu vacilo no desejo
JP
terça-feira, 15 de julho de 2008
REDENÇÃO
Ignóbil pontaria,
Triste arremesso,
Sem que te feches em reflexão
Tentas o alvo.
Longe vai o tempo
Em que o arrojo vingava.
Em que a melancolia em forma de som
Te ilibava esse jeito que trazes.
Te abonava vida à ausência.
Vales só o que pelas costas te dizem em surdina…
E nem te dás conta,
De como te passa ao lado,
A frente de quem te fala.
Trazendo areia, à praia que ajeitas…
JP
ALTO
Alto.
Mais alto!
Projectem no grito, sangue contra a parede.
Não parem até que derrube.
Há-de ceder.
Sinto.
Vejam a abertura que nasce para celebrar a liberdade.
Melhor que saltar o muro, é transpô-lo por nós vergado.
Cai de vergonha.
Derretem-se os alicerces armados,
Vencidos pela poesia desafectada.
Vem de manso o derradeiro tiro de lá.
Sem colete o recebemos, pela certeza de ser indolor…
domingo, 13 de julho de 2008
PÓ
Quero que as cinzas de mim queimadas
Ardam sem fumo nem fogo no ar.
Que ondulem em forma de vento
Por ti largadas, em rede de mãos cedidas
Quero, em sufoco, respirar-te em vida.
Tocar-te em língua a paixão.
E depois sim. Aí sim!
Depois, que venha a puta da cinza,
Desfazer em pó de fim
A pedra que marca o começo...
No dia em que for pó,
Que seja este o verbo que me leva.
JP
RASGO
Na gargalhada se esconde a inocência
Vertes o sabor ateado
Por ti aquecido em ardor
Surges de negro luminoso abrasando a chama
Rasgas-te sensual em apatia
Beijas de longe o desejo
Encontras na redenção
A salvação pecaminosa
Sabes a Deus redentor vestido de prata
Rasgas-me a pele
Em desejo perverso
Perverso de tão atento
Limpo de amargura
Que nos seca o céu da boca e da vida
JP
quinta-feira, 10 de julho de 2008
SINAIS
É aqui que se bebe o elixir,
Que se aprofunda o que no fundo bateu.
É aqui que a evidência surge
De lantejoula ofuscante.
Aumenta-se, assim, a cegueira de quem já via…
Brilha o reflexo,
Em água de chuva pintado
Nas telhas molhadas
Que nos cobrem a ilusão,
De algo que poderia ter sido…
Atenua-se, assim, a espera de quem já lá chegou…
Lembra-te do que te disse um dia.
Pelo poder do afecto, recorda.
Quem sabe se não precisarei, um dia,
Dos dogmas que outrora fiz bandeira.
Das cores que me pigmentaram a ideia.
Protela-se, assim, a dúvida de quem já esqueceu a certeza…
JP
segunda-feira, 7 de julho de 2008
VACILO
Quando alegas o sorriso
Quando me olhas
Quando puxas com os teus os meus olhos
E o meu, ao teu olhar, lhe dá razão
Vacilo quando me pedes a pele cerrada
Quando apertas e empurras
Quando pedes e despedes
Quando se faz tarde em mim
E cedo te apressas à reconquista
Vacilo quando estás a mais
Quando vens de menos
Quando te quero por não te ter
Quando não te vejo por tanto te ver
Vacilo por de ti tudo ter
JP
domingo, 6 de julho de 2008
LUA
Fumo um cigarro em cada portagem
Trouxe comigo a Lua
Que se engrandece a cada quilómetro
Abrando para atrasar a subida
Já vai alta na noite que comanda
Empurra o Sol que já só espreita
Encanta-me a chegada
Sussurra-me cheia de segredos
Deita-me de mansinho no seu seio
JP
sexta-feira, 4 de julho de 2008
PENSAMENTO
Vazio em ideia e linha.
Vaguear sozinho, somente.
Braço dado à sombra
Só porque essa não trai…
JP
QUADRO MINIMAL
Daninhas de dentro cavam terra
Vetam água de rega
Impedem que lhe chegue o sol
E esquecem que já foram sementes, um dia
Ignóbil conduta.
Desilusão, a minha…
.
terça-feira, 1 de julho de 2008
segunda-feira, 30 de junho de 2008
SOSSEGA
Não desfalco a conduta
Dura pele envergo
Finalmente defendo
Esquivo-me facilmente de ti
Vem tarde a verdade
Atesta de longe na lembrança
Nego-lhe a razão no presente
São sombras negras frustradas
Não acompanham o real movimento
Tarde para que me queiras
Cedo para que me desvies
No fundo de mim respiro
À tua tona oxigeno
Ar que bebes porque vives
Resta pouco de mágoa em mim
Evoluo em cada inspiração
Pontapeado pelo que expiraste tu
Apaga a luz agora
Sossega em escura memória
JP
sábado, 28 de junho de 2008
FOME
Vencido pela fome de lua, largo-me de carro à estação mais próxima.
Peço uma sanduíche mista e plastificada. Como-a ali, empurrada por uma cerveja…
Toca-me de leve nas calças, uma mão envergonhada.
Não tinha mais que 10 anos. Olhos grandes e negros, roupa suja e gasta, calçado descalçado, cabelo ruivo de cor ou de lama, rosto negro de sol e de rua, boca fechada de fome.
Diz-me com os olhos e com a voz “Quero comer”.
Morri.
Dei-lhe, claro está, tudo o que o seu pequeno corpo aguentou.
Fiz-lhe mil perguntas. Não respondeu a nenhuma…
Questiono a funcionária se sabia quem era. Responde-me com a mesma frieza do postigo que nos separa “Tem estado aqui”.
Tem estado aqui? Tem 10 anos, merda! Não pediu dinheiro. Pediu comida!
Não sei se a fome lhe veio no intervalo do negócio fiscalizado de longe pelo pai ou pela mãe escondidos…
Chamei a polícia.
Breve espera e chegaram. Irrepreensível conduta, de resto. Com ternura na voz e no gesto, lá fomos…
Tinha fugido de casa.
Família de Leste carenciada.
Só de lá saí quando veio o pai.
Igual ao menino em escala maior. Tremiam-lhe as mãos no abraço. Olhos esbugalhados e secos. Esbugalhados pelo álcool, secos por não chorarem há muito…
Beijo o filho, em troca de um olhar que me perseguirá sempre.
Soube depois, que esta é uma situação reincidente…
São 05:20
O Samuel não dorme com fome nem ao relento, pelo menos esta noite…
Eu regresso, em triste silêncio, a casa.
JP
sexta-feira, 27 de junho de 2008
OUÇO-ME
Sou, como que possuído. Encerrado numa força que não derroto. Nem tento.
Pára-me o cérebro e escreve só o corpo. Sozinho e vencido...
Dou-me conta só quando me leio.
Não sujo folhas brancas só porque estão nuas.
Rabisco quando entro, distraidamente, em agonia desabafante…
A questão é que, de facto, desabafo.
Transbordo de mim em cada palavra.
Não me levem a mal as repetições em figura e estilo, mas é tão bom conversar comigo.
Ouço-me.
JP
quinta-feira, 26 de junho de 2008
COR
Batam ensurdecedores metais
Chamem-se alto para que se ouçam
Corram descalços a rua conquistada a medo
Agora é nossa por olho e dente
Que se acenda de vez a luz
Que se revelem as esquinas
Que o apalpar do avanço
Traga abraços de menos
Assim se avança sem medos
Vinga a cor prometida
Tantas vezes apetecida
Colorir a ausência castradora
Vem quente de verdade
Arrefecer a antiga vontade
JP
terça-feira, 24 de junho de 2008
segunda-feira, 23 de junho de 2008
SOL
Afloras-te à superfície
Vens dourada de luz
E cegas-me o caminho
Arde-me a pele enxugada pelo sol
Seca o chão gretado e gasto
É nele que me deito
Plano macio e terno
Elevo-te em mim amarrada
Subimos ao sol de almas ligadas
Derretem-se as asas
Na queda outras renascem
Fica em mim colada
Assim dourada
Ilumina a viagem sem destino perto
Ardemos no frio do vento que passa
Apertamos nas mãos amor firme
Pára o vento
Pára a queda do sol
Como nuvem branda e branca
Ficamos embalados em nós
Leves e firmes como o sopro
JP
DESEJO
Perduraste comigo o momento.
Estamos, irremediavelmente, em franca adição…
Apertamos a distância com uma fácil lembrança.
Cai, lento, o denso véu da vergonha.
Desnuda, matando o remorso, aquela noite…
Subimos ao alto de nós, puxados em escalada louca, pela mão do desejo…
JP
domingo, 22 de junho de 2008
LOUCURA
Despi-te com o verbo. Passámos juntos à distância, a noite prometida.
Voaste, finalmente, comigo.
Pintámos em aguarela o eterno segredo…
Agora, sei-te de cor.
Senti-te o sal.
Cheguei a esperar por ti, lembras-te?
Estarás, sempre, em cada intervalo da realidade.
Escreves, comigo, este conto secreto e louco.
Ainda ouço, em câmara lenta, o teu “suspiro sorridente”, que me manteve acordado… Até agora.
Espero-te no próximo sonho.
JP
GUARDA-TE
Castramos a hipótese.
O receio da luz queima o escuro vivido por nós, nas muitas noites de prazer que temos tido em devaneio.
Sabes-me a pretérito, trajado de paixão, na manifesta vontade que tenho de te querer…
Vem a redenção da lucidez, envergonhar o desejo que comungamos.
Sabes-me a vida que, nem sequer, cheguei a viver…
terça-feira, 17 de junho de 2008
FUNDO
Onde se juntam as vontades.
Onde se trocam carícias desapertadas…
Lá, onde nos abraça a afeição,
Livre e leve como o paraíso.
Penetrado em mim, de ti retornado,
Frente ao relâmpago que nos estimula.
A vontade de ser brisa, que sopre o pulmão emancipado…
Esticam-se as velas,
Insufladas de audácia e ar, puras como o destino que anseio.
Dentro, tão dentro…
Vejo a segurança do chão.
Chão que não deixa pegadas…
Só eleva a transição, por mim passada,
Ao encontro de nós, levitando na paz…
Carne e sangue primários,
Puxam a razão terrena…
Deixarão sempre, a vontade…
Restará sempre,
A liberdade de querer de mim, o que muito bem quiser,
No enredo perfumado dos teus cabelos...
JP
segunda-feira, 16 de junho de 2008
NOITE
Ensaio com firmeza o calibrar afectivo que nos une.
Temos apenas esta noite para que o amanhecer traga sol. Restam breves raios de luz, até que atordoemos. Vencidos pelo vil engodo da armadilha…
Assusta-me o teu negar ao sonho.
Sonha! Sem barreiras, nem entraves.
De facto, quem precisa do amanhecer, quando a noite nos traz o sonho. Feito de tudo aquilo que o desejo acordado amealha até aos lençóis.
Vou adormecer…
Quero que o despertar seja lento. Prolongando a elipse diminuta, onde nos lembramos o quanto fomos felizes durante a noite sonhada…
JP
ACABARAM
Esses dias acabaram.
A meio da idade da era, incredulidades se avolumam em mim… A era do descobrir, desvendou-se.
Esses dias acabaram.
Só eu, em mim me logro. Me aceno em placas, o caminho a seguir.
Foram-se.
Esvaíram-se no recordar, os fantasmas vestidos de mim, sem que os envergasse…
Esses dias acabaram.
Agonizaram-se, as dores tombadas. Por vezes, por ti tomadas… Na tentativa estéril, mas nobre, de me minimizar o impacto do retorno.
Na dureza do cru, te digo:
Acabaram-se, esses dias.
JP
sábado, 14 de junho de 2008
QUEM SABE?
O epílogo traz de volta o beijo perdido. Nós, vestidos de escuridão numa rua guardada da Guarda.
Recordámos, esta noite, o “beijo-menino”.
Protelamos, assim, o bailado de línguas inexperientes, até aos nossos dias.
É o beijo desprendido.
Livre de votos descabidos, face à clara vontade que temos de nos beijar de novo...
Acontecerá novamente, contrariando aquilo que deveria ser. A vontade de nos sentirmos vivos, ultrapassa a conveniência do “vivendo”…
Na tontura do futuro, imagino aquilo que seria, se o teu sabor ainda me povoasse o palato. Se os corpos, ainda hoje, descobrissem no tacto, as curvas que só a lembrança nos traz vertigem.
Quanto mais sinto saudade, mais arrependimento se soma, às falhas cobardes do passado…
Mais se diminui, a convicção de enfrentar o tracejado vivido.
Prendes-me ao teu encanto, sem que te dês conta…
Cheiro-te de longe, no silêncio que te vem da boca…
JP
sexta-feira, 13 de junho de 2008
AMAR
Só de perto, muito perto, perfuma…
Não controlo a proximidade. As minhas aletas empurram-te a pele, em pontos estratégicos que só o meu nariz descobre.
Cheiras a libido, a vida… Cheiras a ti, misturada comigo…
O aroma intensifica-se à medida que atraso o encontro.
Já não cheiras. Irradias, simplesmente. Irradias o alucino delirante que nos eleva aos céus.
O cheiro, volta a sentir-se depois, envolto em toalhas que vêm apagar a viagem…
Fico-me com o cigarro essencial que corrompe a fragrância.
Foi bom, para ti?
JP
(RE)NASCER
Espera, fragilmente adormecido, a última festa e o beijo que lhe traz a noite…
Vou, pelo aroma de mim, olhá-lo de perto e fechar a tampa do repouso sagrado, desejando que amanheça como adormece… Candidamente fresco, inundando-me de vida.
Tens na boca, o gosto amargo do silêncio
Procuras o grito aflito que não sai
Ajustam-se, assim, as contas por fazer
Infrutífero o esforço a que te esforças
O silêncio berra, pelo barulho opaco que irradias...
Vasculhas-me a pele assanhada
Buscas a fragrância ludibriante.
Agasalhas no calor de ti
O frio que tempera a solidão povoada
Manchas de vermelho vivo
A incerteza do que há-de vir…
Se eu não fosse assim, não contemplaria desta forma, aquilo que os meus olhos me oferecem. Recebo o sinal evidente que ateia a escuridão…
No detonar explosivo do fundamento, resolvo os pretéritos malignos, no alcance do amor mais puro. Aquele que, quem provou, ainda sente na boca o hipnótico sabor que só o cristalino traz.
A melhor forma de amar, é aquela em que, o Amor passa a Paixão… Revivendo a ignição apaixonada que o fez nascer.
domingo, 25 de maio de 2008
100
Valeu PAPOILAS!
Vou, de futuro, lendo-me.
Em cada passo que resvale, procurarei nas minhas, as palavras que contarão narrativas vividas dos que ouvem e calam, como a chuva...
Mesmo os lírios curiosos, que não Papoilas, continuem…
Continuem em busca da luz escura, que há-de brilhar, um dia.
Esqueçam-me lembrando-me, em cada flor que cheirem…
Até sempre, Papoilas.
Eu seguirei firme, em busca do ópio que polvilhe a vida que derrapa.
.
TRANSPARENTE
Em asfalto longínquo
O caminho que falta percorrer
Sinaliza o caminhado
Demito-me de me ver, para que me veja…
JP
VELA
Só há negligência quando nos traímos a nós próprios. Quando não... É justiça.
Vejo tão claro, agora.
O suspiro profundo também empurra a vela. E, por vezes, para a frente.
Desviem-se!
JP
terça-feira, 20 de maio de 2008
E?
Nota sim, nota não, surges nítida e nua.
A firmeza de linha traçada, transformada em definitivos arremessos contra a minha própria existência.
Já viste como a cor é muito mais fiel ao sabor do breu?
Bem vinda ao Mundo que, de facto, te pertence…
JP
sábado, 17 de maio de 2008
VAZIO
O que não sacode não se faz sentir
Chocalho as palavras vazias
JP
CÉU
Diferente por ser diferente. Ou porque me antagonizo ao que me enternece, ou porque me rendo aos ensinamentos do vivido.
Desenham-te, as restes de melancolia, em sentido traço, a beleza que te compõe…
Desprende-te do que move os “outros” e recupera o combustível vital que tem, fatalmente, de imprimir progresso à vida que te agoiro tão bela…
sexta-feira, 16 de maio de 2008
FADO
O Fado é Sina. Bastaria o diminutivo da Matriarca, para ler escrevendo “Sina”, venerando…
A sorte pontua venturas.
Povoar o vazio, enche preceitos. Alarga o gargalo para que liberte o nocivo em repuxo.
Nem sempre o recordar é viver. Por vezes, o recordar mata… Morte renascida da tumba, esperando de novo por alguém que me abata certeiramente e que mantenha ao alto os braços defensivos de quem profetiza o ataque emocional que constrói a estratégia que me ataca...
.
JP
quinta-feira, 15 de maio de 2008
AMPULHETA
A língua bate no céu-da-boca
Marca o tempo e o passo
Ao passo que o tempo não marca
Vai simplesmente passando
Fossiliza Passados enquanto passa
Petrifica Presentes à sua passagem
Em permanente adeus
Acena despedidas partidas
Cumprimenta chegadas que estão à porta
Passo a passo no caminho
O tempo marca o tempo
Ampulheta não calibrada que engana
Areia que sobe na gravidade
Presente sujo pelo Passado
JP
segunda-feira, 12 de maio de 2008
PARABÉNS, MATRIARCA!
Levanto-me para te aplaudir, levantam-se aqueles que conheces, rendem-se os que te conhecem… Já estavam de pé os que te agradecem.
Fazes-nos falta, a todos.
Vejo, como tu em menina, os lobos que, de repente, já não são lobos, são leões e tigres como nos contos…
Estes são os olhos por ti paridos, que brilham na esquina escura, palpando no vazio… assoberbando na clareza.
O que te irritava enerva-me a dobrar. Assim te evoco permanentemente. Assim me acompanhas, balizando os princípios de ti recebidos, acautelando os fins oferecidos à vida que tantas vezes é loba em episódios de sobra…
Egocentrismo? Não… És só tu em forma de vento, a acariciar-me o cabelo.
Vou, pelo pólen que nos move comovendo, continuar a acreditar que é possível.
JP
sábado, 10 de maio de 2008
MARCAS NA AREIA
Correste com a liberdade que te fez, sorriste com a magia que trazes… Como voo de gaivota, sempre contra o vento, venceste a costa rumo ao Norte…
.
“Sim, voltaremos. E hoje adormeceremos de mão dada outra vez… “
sexta-feira, 9 de maio de 2008
quinta-feira, 8 de maio de 2008
EXPLÍCITO
Vais, assim, minando o futuro com dispositivos que a noite detonará.
Não te apercebes, claro. A mentira contada muitas vezes, passa a ser verdade até para quem a conta, vivendo-a…
Eu não conhecia a iniquidade, até te conhecer. Obrigado… O que é Belo ganhou outra dimensão e detecto o malabarismo emocional à distância de uma respiração.
JP
segunda-feira, 5 de maio de 2008
INEM
Desfocamos a nitidez da vista…
E vemos névoa brilhante de fogo.
Que arde, que me arde, que me queima
E sinaliza o percurso de urgência.
Desafias-me no verbo
Não nutres dúvida no sucesso,
Suportas-me a vida sem chamada,
Garantes-me o desfibrilhar que bombeia
Sangue Sangrado, que não tem de ser Bola Preta*
Ressuscitas-me, vivendo…
Bum Bum... Bum Bum... Bum Bum... Está a bater, juro!
Leva o teu suporte daqui porque me reanimaste...
Assim me juntas à vida de tantas vividas, que só não se perdem, porque tantos como tu, as encontram...
E me afogam de orgulho.
JP
AFECTO
A negação feita justiça em forma de encontro.
Eu explico:
Era uma vez Um e Um. Na vertigem surgiram Dois, em surdina fomos três, ou quatro…
No meio do malabarismo emocional de Um, um de nós caiu. BUM!
Agora o tombado já não é Um, é Dois… É Ele e Eu.
Pluralizamos o afecto, recebemos a mentira conveniente feita verdade, como filtro vital do incerto que te inquieta.
A meio da noite, de uma noite… Deixei-me agarrar.
“Olá, mentira. Vens-me aclarar? Deixa lá. Antes tu de traje, que a tal da verdade nua…”
É só um pesadelo, como tantos outros sonhos.
JP
DOR
Depois vem a dor… que tem de doer. Sem que a sintas não a resolves.
Tem de ser…
Encontrar-me-ás sempre que te perderes.
Dói porque te sentes. Cura-se porque te sentes, também…
Abraço forte,
JP
sábado, 3 de maio de 2008
PIRÂMIDE
Não foi.
E orgulho-me de não ter sido.
Demasiado lodoso…
Não tem a minha cor.
Aventureiro, sim. Mas tem de haver alvura para que mergulhe…
Quando o beijo te engana, segura-te à carícia.
Transita mimos desprendidos…
Vive da carne, só por ser carne.
Cega-te para além do vislumbre
E limita-te ao contacto.
Não há lado obscuro da Lua. Na realidade, toda ela é obscura…
JP
quarta-feira, 30 de abril de 2008
CONJUNTIVO
Sacode-me a intenção que trazes
Comove-me a meta a dois
A testa descolou, finalmente, do espelho
Caminho errante… mas apaixonante.
JP
terça-feira, 29 de abril de 2008
CLEAR FOR TAKE-OFF
Nada nos deterá! As asas batidas a dois voam melhor…
Prepara-te para a aventura. Superará o mais alado dos sonhos, acredita.
Juntos, homenagearemos com a proximidade, a Raiz de Nós.
É na troposfera que acredito haver quem viva no Céu, quem brinque nas Estrelas, quem se deite na Lua…
Também vais acreditar, Comandante.
JP
segunda-feira, 28 de abril de 2008
TÃO BOM
Foi, não foi?
Intensificámos tudo, não?
Bebemos luz do breu.
Os olhares foram “G`s”, não foram?
Foram...
O melhor Passado
É aquele que o Presente receia lembrar.
Escondendo memórias
Em códigos indecifráveis.
É o enigma existencial da lucidez da Vida…
Egocentrismo em forma de argumento,
Escondendo o Amor com Carácter de Urgência...
Perdeste.
Ganhei eu...
O prémio é o Carácter.
A consolação é a Urgência em o encontrar...
JP
sábado, 26 de abril de 2008
MP
O brilho que tens como arma, tudo derruba.
És grande e belo.
O Mundo está apenas à espera de se diminuir, para que a tua mão o aperte…
Vai acontecer.
Este é um dogma inquestionável…
Basta olhar para ti.
Tens o raro dom de transformar com a visão, o desejo em verdade…
Vem-te das raízes,
Que regarei eternamente…
Vales-me a vida…
JP
sexta-feira, 25 de abril de 2008
DESCULPA
Agora paro o tempo que for necessário para que o estranho se apresente…
É a avidez do “Quem és tu?”.
Afigurem-se, vá!
São cada vez mais. Nascem como cogumelos…
Afirmam-se na ausência que não me comove.
Para sentir há que me sentir, de facto. Há que me tocar.
Não me espiem! Abordem-me.
A presença envergonhada mata a disponibilidade.
Não tenho paciência, desculpa...
JP
LUZ
Única e derradeira
Vírus possante
Determinado à perpetuidade
Consumo o anticorpo porque existe
Está em mim camuflado
Agarrado à dor dispensável
Que perdura por insistência
Que é inversamente proporcional
À paz que me nutre
Por vezes, há que apagar a luz para ver claro….
JP
quarta-feira, 23 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
domingo, 20 de abril de 2008
VIDA
Não se nota?
Serei só eu a perceber?
Ou será que só eu, não percebi a profundidade do meu mergulho? Perdão, empurrão.
Haverá alguém que me vê mais frágil do que realmente sou?
Amedronta-me...
Tranquilizem-se, Papoilas. Estou melhor que nunca.
Vitaminei-me, nutri-me, fortaleci-me.
Estou pronto para outra.
Sim, para outra...
Não sendo assim, estaria morto...
Nesta batalha, o troféu é a brecha prá Vida...
Venha ela!
Durmam!
Acordem limpos de angústia, como eu acordei...
JP
sábado, 19 de abril de 2008
sexta-feira, 18 de abril de 2008
LAMENTO
Diz.
Como?... Eu?... Não.
Jamais.
Eu não sou assim… O espelho da utopia já lá vai.
O reflexo é o meu, de facto.
Só pode haver um engano…
Lamento, mas fui detonado pela verdade.
O dia voltou a ser luz e a noite regressou ao escuro.
Explodi!
Não é comigo, lamento...
JP
quinta-feira, 17 de abril de 2008
FUSÃO
Falhei.
Aperto-te em moldura junto ao coração...
Beijas-me como sempre,
Absolves-me sorrindo...
Pedes-me o impossível,
Vetas-me os movimentos,
Obrigas-me a promessas vãs...
Condenas-me ao logro
Que jurei nunca mais viver.
E agora?
A Lua já vai alta…
Antagonicamente, recebo sol nas pálpebras fechadas.
São as carícias da noite que me visitam.
São os dedos-seda do sono,
que me garantem o sonho policromático...
... Adormeci.
JP
terça-feira, 15 de abril de 2008
XADREZ
Depende directamente daquilo que os olhos vêm acordados.
Depende directamente daquilo que me adormece...
Não é o sono que me deita. É o cansaço...
Deita-me a teimosia sequiosa, de quem artimanha a próxima jogada.
Já tenho a Torre na mão, jogas?
JP
domingo, 13 de abril de 2008
ELEMENTOS
Não sou nada Terreno, de facto. Pertenço ao Mar e ao Céu…
Sou Antípoda na minha própria existência…
sexta-feira, 11 de abril de 2008
quinta-feira, 10 de abril de 2008
POR UM FIO
Dobras a própria vida, à força.
Não a engomas, não a lustras...
Amachucas o tecido essencial.
Fias, envergonhada, a seda que envergarás.
JP
quarta-feira, 9 de abril de 2008
JUNIOR
Não te apagues. O teu fim potenciaria o princípio do meu…
Também te quero, muito e há tanto…
JP
terça-feira, 8 de abril de 2008
VIAGEM
O enquadramento são mãos,
Mãos que apertam, afagam, embalam…
Plano pormenor da despedida,
Abraço forte que dissolve.
De partida para longe, tão longe…
Não há lugar para ti.
Vou só eu comigo,
Sento-me ao colo de mim…
Conto-me histórias.
Histórias pintadas ali,
Com finais convenientes.
Não há tempo para análises.
O futuro, vem ao ritmo das imagens,
Como estas, que mal se focam pela janela…
JP
FORTALEZA
Parabéns, Fortaleza!
Quero continuar a viver rodeado pelas muralhas que teias em redor dos que amas…
Nem te dás conta que o fazes, pois não, amiga?
Mas olha que o fazes…
Continua, por favor, a brindar as nossas vidas com a tua presença.
Amo-te.
JP
segunda-feira, 7 de abril de 2008
domingo, 6 de abril de 2008
VIOLINO
Depois de degustar no João, fui para o carro. Os meus passos estavam a ser sonorizados, sonoplastia em directo. Não podia ser verdade, por mais lírico que me encontre… Mas estava demasiado nítido, excessivamente coerente.
No meio das muitas luzes enjaneladas, uma entreaberta, inundava a noite de quem passava.
Eu estava a passar…
Que bonito.
JP
sábado, 5 de abril de 2008
ORGULHO II
NP
(10 anos, uma vida pela frente)
sexta-feira, 4 de abril de 2008
MARCAS VÃS
Em tinta de água,
Cravadas por mão ausente
Em livros que me nutrem de sopro.
Não folheio, desfolho…
JP
ORGULHO
Ainda estou no primeiro grito chorado. Ainda, de cordão umbilical dependurado, espero a tesoura de corte…
Não cortem já, por favor!
Deixem-me estar no colo do meu filho.
Que força, meu amor. Que orgulho!
És a cor do meu pensamento.
Fiz-te e agora fazes-me tu… Quem diria…
JP
quinta-feira, 3 de abril de 2008
CINEMA PARAÍSO
Somos tão pequeninos, não somos?
Simplesmente desconcertante, não é?
É a força do beijo proibido… A memória nunca tem cor. É como os sonhos, sempre a Preto e Branco. Nunca tinha pensado nisso. Abana-me a existência… Que bom.
JP
NI
Não tem explicação.
Ouço-o falar e antes de cada resposta, tenho de me lembrar que o Pai… Sou eu.
Vem do teu sorriso,
Das tuas carícias,
Do que me dizes, meu amor…
Segura-te, filho. Mantém-te assim, como já fui um dia… Não te deixes apanhar por tenazes de ferro, que forçosamente, te aliciarão na vida que te espera.
Espera tu pela vida, filho. Espera-a activamente. Regurgita o indigestível, regozija o genuíno…
Dá cá a tua mão.
Não! Toma antes a minha.
Vamos caminhar. Olharemos de vez em quando para trás… Assinalando as pegadas, as pétalas caídas... Largadas, renunciadas.
Um dia, serão só as tuas… Mas seguiremos de mãos dadas. Olha a tua avó na minha outra mão…
Quando for grande, quero ser como tu, meu filho.
Amo-te,
“Até ao infinito e mais além, Papá!”
JP
ESCORREGADIO
Pérfidas e lúbricas,
Aderência firme
De quem já não derrapa.
Só flutua, só flutua...
JP
quarta-feira, 2 de abril de 2008
DE TU QUERIDA PRESENCIA
És o meu Poeta Da Rádio.
Fantástico, Fernando Alves… Dás-me todas as imagens, enquadradas nas tuas palavras, num voo atento e apaixonado sobre Cuba. É embalado pela voz, pela tua voz, que hoje adormeço…
Trazes-me sons, cheiros, gentes.
Transportas-me de novo às ruas onde já fui tão feliz.
Hasta siempre, Comandante!
Pelo menos a mim, tens comandado a noite, com a verdade dos teus olhos transformada em Rádio Sonho…
Que saudades.
JP
domingo, 30 de março de 2008
A AMIGA
Hoje abracei a Cristiana Tourais (a melhor amiga da minha mãe).
Trocámos o olhar e eu senti, por momentos, que o movimento da terra parou. Parou, mesmo.
Porque não falaste, Cris? Sim, tu! Porque não verbalizaste? A ti, tudo te responderia…
A ti, tudo deixaria claro.
És a responsável pelas Papoilas, lembras-te?
Ver-te, foi renascer…
Até hoje, não me lembro de nada nem de ninguém, que a chore como tu o fazes. Assim, com esses silêncios.
Encontramo-nos em cada gole de whisky, onde a Rainha nos visita, em forma de Pétala, por ti desenhada, vestida de verdade.
Já vem a caminho, sentes?
JP
CHE
Cada beijo que me deste, derreteu-me a pele.
Que saudades, meu irmão…
Desculpa as esquivas às tuas perguntas. A seu tempo virão, as respostas...
Bastou-me o teu cheiro, o teu peso, a tua voz, o teu olhar... Para me sentir, novamente, o teu “puto" de sempre… O que proteges à distância, com uma simples lembrança.
Já vivemos de tudo, não foi mano?
Amo-te tudo.
JP
DIAMANTE
Não te enrosques a mim… Deixa-te disso. Eu não sou assim. Tenho mais noites em branco, que dias na claridade-cínica das trevas.
Sou um soldado do conhecimento, uma esponja do sentido, ou do laxismo.
Vivo mais o que os outros vivem, que aquilo que eu próprio protagonizo.
Se gosto de mim? Claro que sim! Amo esta capacidade que tenho de respirar o que os outros expiram… Separo o nocivo do vital.
Sou Diamante Louco, áspero de tão polido…
JP
sábado, 29 de março de 2008
PORTA
A visão, quando acompanhada pelo toque, ganha dimensões colossais…
Olhaste-me,
Tocaste-me,
Abriste a porta de entrada para morares em mim…
Deixa-a aberta,
Até eu, posso sair.
JP
sexta-feira, 28 de março de 2008
COLO
Ausentaram-se escassos dias e senti-me perdido.
Que bom ter-vos de volta.
Que bom receber o calor epidérmico da adoptante…
Que bom escorar pela calada, os carinhos que atira o adoptante…
Também vos vivo, por me viverem. O vosso colo é providencial… Belo de tão genuíno.
Bebo dos vossos silêncios goles berrantes, acreditem.
Sou muito melhor, tendo-vos…
Amo-vos.
J(orge)P(ilar)
quinta-feira, 27 de março de 2008
UM DIA
Indumentária por ela separada, gente por ela escolhida. Um desejo esquecido por quem a chora… Nós.
Queria despedir-se com o timbre da Amália, não foi.
Partilhou, em frágeis desabafos, a flor de eleição: O Cravo Vermelho (não será preciso justificar).
No tropeçar da noite chega um anjo…
Olhou,
Chorou,
Lembrou,
Tremeu,
Morreu,
Ressuscitou,
Fez-se menino,
Cresceu…
… e pousou no peito da Cina, um Cravo Sangue, que ainda hoje respira…
Para uma Papoila da mesma cor,
Que vive no Deserto.
JP
ENSAIO
Amanhã será mais uma etapa para chegar ao voo autónomo. Mão esquerda no manche, ensaiando manobras seguras, firmes, convictas. Mão direita afirmando vigor ao progresso…
Descolarei?
A ver vamos…
As nuvens de tecto alto são o limite.
Estou pronto. Já sinto o vento de frente…
terça-feira, 25 de março de 2008
ARMADURA
Já pensaste?
Anda! Sem medo...
Vamos! Estás à espera de quê?
Já está?
O quê?
O pensamento, porra!
Vamos. Vinga a vida de merda, na merda da vida.
Completa o puzzle.
Faz de ti, ou de mim, o primeiro marcial desta guerra que também é tua.
Sim, é tua também.
Guerreaste tantas quanto eu!
Abraçaste armaduras, como eu,
Atacaste, tanto quanto eu…
Vives ou viveste, no lodo movediço que aduba as nossas vidas.
E as palavras com a força de sempre, qual trincheira defensiva, onde se ganham batalhas...
Estou Louco?
Sim, estou.
Antes morrer de pé nesta loucura, que viver de joelhos nessa lucidez...
JP
domingo, 23 de março de 2008
MÃE
Tenho saudades… A saudade protela a presença. Continuo a acordar diariamente com a ária dos seus passos pelo corredor. Antes de sair para trabalhar, beijava cada filho como se fosse o primeiro. Não sei a marca do perfume, para mim cheirava sempre a Mãe.
Neste preciso momento, enquanto escrevo, está aqui ao meu lado.
Estás a olhar para mim, Mamã?
Faz-me aquelas festinhas, que me desligam da corrente e me fazem regressar ao abraço placêntico…
Lembras-te, Mamã? Quando as tuas perguntas traziam todas as respostas, quando o último cigarro era democraticamente dividido, quando amanhecia e nós na varanda, em busca da noite clara… Quando éramos só nós.
Disse-me a tua primeira Papoila, que escrevo como escrevias.
sábado, 22 de março de 2008
TRIBUTO
Está a acabar…
Bebo as últimas gotas da aguardente 30 ANOS do meu avô. A idade, já é motivo bastante para perpetuar nas teclas a sua existência. Mas, acreditem que este néctar tem sido o meu reduto… Fica aqui a merecida reverência, ao palato herdado de alguém que não conheceu o pecado.
Tenho saudades tuas, avô. Das viagens que fizemos, em que as paragens demoravam mais que o caminho… Em que o teu sorriso maroto, escondendo orgulho, me levava ao destino, mais rápido que qualquer comboio (Tu percebes).
Continua, nos sonhos, a piscar-me o olho como sempre fizeste.
JP
sexta-feira, 21 de março de 2008
ATLÂNTICO
Hoje falei com o Mar.
As ondas trouxeram palavras maduras que ouvi atentamente. Também falei, mas menos… A determinada altura fechei os olhos. Inacreditável composição. Tinha melodia, juro! Com uma métrica musical irrepreensível, um vai e vem quase orgásmico. Capaz, imagine-se, de eliminar por completo as vozes estranhas que teimavam em ficar. Momento inesquecível e obrigatoriamente a repetir, em forma de rotina…
Cheguei a casa com o atrevimento de reproduzir ao piano a experiência, em vão, claro. Os dedos são curtos demais, frente a um Mar tão colossal…
LIÇÃO
quinta-feira, 20 de março de 2008
NOVO DIA
A luta continua,
Por esse novo dia.
JP
terça-feira, 18 de março de 2008
POLITICAMENTE INCORRECTO
É um exercício mordaz, frente à vida que nos envolve.
É difícil. Demora teclas e teclas...
Ter a coragem de escrever amanhecer quando anoitece e vice-versa...
Não é para todos os mortais.
Tenham a coragem de iluminar os Escritores Negros que a carteira esconde da luz, onde se pode, tranquilamente, escrever como quem se despede ou se abrilhanta, numa radiação que engana a inspiração...
NOS BRAÇOS DA PAZ
Como farpas certeiras,
Beijos secos e apagados…
Inconstante liberdade
Que agarro com solidez.
São os braços da paz, que se abrem para me receber...
JP
domingo, 16 de março de 2008
VOA
Vertigens? Como não? Claro que sim. Venha o primeiro defender o abismo sem riscos… Não seria abismo, seria pára-quedismo…
Não abriu a asa?
Esborrachas-te!
APRENDE com a queda, mas não te deixes vencer pelo medo, continua a saltar.
Um dia a felicidade, feita almofada, amortece-te a queda e impulsiona-te noutros voos…
Voa, voa… É tão bom.
JP
sábado, 15 de março de 2008
sexta-feira, 14 de março de 2008
EMBRIAGUEZ DA ESPERANÇA
Foi mais um passo, de tantos que hão de vir…
Força, companheiro!
JP
quarta-feira, 12 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
ZITO
Um toque, um sorriso, um abraço… E traz-me tudo aquilo que para mim representas: A mais pura forma de amor fraternal.
És Papoila, és irmão…
Estiveste sempre comigo, com os teus silêncios, nesta caminhada ao retorno.
Vivo-te, por me viveres…
JP
domingo, 9 de março de 2008
REGRESSO AO FUTURO
Estou de volta, amigos.
Para trás ficam ensinamentos, feridas que se cerram, abraços recebidos que me levam à permuta. Serviu, também, para me exorcizar através da escrita. Caminho desconhecido, nunca por mim trilhado…
Vivam os amigos, os cigarros, a escrita, a raiva, a paz, as ruas, a família, o carro, a bicicleta, o avião, os estranhos, o vinho, a televisão, os jornais, o telefone, a presença, a ausência, o silêncio…
Regresso…
sábado, 8 de março de 2008
DESCOBERTA
Entrega-te...
Encosta-te a mim
Converte-te ao avesso
Desnuda-te de qualquer preconceito
Deixa-me ver-te, assim, nua…
Tenho de ser eu, a sentir o teu pudor.
Os olhos, são os primeiros a tocar, e únicos…
Olhar com olhar,
Este é o compromisso.
Não se pode desviar a miragem,
Para que a descoberta perdure…
Sem medos, ou receios,
Entrega-te...
JP
HÉLDER
Como me emocionas…
És tão bonita, amiga. Os sais que te percorrem o rosto, despidos de entraves, genuínos e sólidos como pilares piramidais, desnudam-me de preocupações…
Abre os punhos, Mãe Pilar.
Não cerres o coração, que é tão belo quando chora…
JP
BORBOLETAS
Na escuridão do medo.
São as últimas borboletas a ir,
Num bater de asas frenético.
Deixam crisálidas enigmáticas, que sustentam a vida...
JP
sexta-feira, 7 de março de 2008
EU NÃO!
Não alimento ódios para resolver amores!
Eu não!
Recuso-me a respirar podridões sociais
A viver refém da vida de alguém.
Eu não!
Recuso-me a digerir o que me empurram pela boca…
Quero mastigar, porra!
Quero sofrer, para dizer que vivi.
Eu não!
Eu não tapo os viveres com as vísceras de um inerte!
Que se lixem os canibais emocionais,
Comem-se uns aos outros como vermes.
Eu não!
Eu não me deixo corroer.
Recuso-me!
Quero mergulhar intimamente em mim!
Afogar-me no Eu Profundo…
Ficar por lá.
E depois, muito depois…
Emergir renascido, sem ter perdido a recusa.
JP
PAI
Trouxe com ele interrogações, levou outras.
Fizeste-me tão bem… O brilho contido que trouxeste nos olhos deu-me paz… As tuas máximas, por ti vividas, passadas à minha vida, ditas por ti fazem sentido.
“O coração fica de fora, a inteligência por dentro” Assim será!
“A eternidade, pode durar uma bica, uma noite, um cigarro… Não te arrependas do passado, aprende com ele” É tão verdade.
Quero, um dia, ser como tu. Chorar o que tenho de chorar antes ou depois do dilúvio. Na solidão, nos amigos, nos copos… Nunca na conduta.
Obrigado pela tua presença… Na minha ausência.
Amo-te profundamente, és a maior das Papoilas.
EGOÍSMO
quinta-feira, 6 de março de 2008
TEMPO
Castro violento do tempo
Que contado ao milésimo, mede mais…
Mede-se cada momento como único
Unicamente longo…
Procuro nos intervalos do prazo
A resposta que vem do anseio,
Vivo preso à conclusão
Que tarda, mas que se avizinha.
Num delírio desconforme, desta existência que me agita.
JP
ALMA
Ouvi a abertura, exalei-o, sacudi os anos de retiro, cheirei o perfume da rolha, bisbilhotei o aroma do néctar, aproximei-o da boca… Não o bebi, bebeu-me.
ALTAS QUINTAS 2004 – ALTOS VOOS 2008.
À vossa!
OLHO-ME
quarta-feira, 5 de março de 2008
CREPÚSCULO
JP
INCONDICIONAL
Perpetuámo-lo em forma de criança. Tão belo o nosso menino… Tão especial e tão mágico…
Com a simplicidade de um olhar tudo absorve, tudo percebe, nada questiona… É fruto de dois mundos, tão diferentes, mas tão igualmente intensos.
A tua afeição incondicional emociona-me, amiga… É bom saber que estás por cá.
És amiga,
Confidente,
Ombro,
Sorriso,
Palavra,
Asilo,
Reduto,
Apontas o dedo,
Abres a mão, para uma doce carícia…
E és mãe da nossa Papoila…
Obrigado por existires, Cris…
JP
terça-feira, 4 de março de 2008
PELE
O segredo está na pele
Tocada em silêncio, quase que se ouve…
Os poros dizem, dialogam mesmo
Em conversas ternas e profundas
O toque transpira
Num bailado enredado
Tremura que despe,
Vacilo que denuncia…
Anunciando a detonação epidérmica
A estridência dos poros
Pautada pela firmeza do toque,
Prenuncia o fim
De tantos princípios
Abre os olhos…
O segredo está na pele
JP
SUSTENTAÇÃO
Invertido, louco, em espiral
Numa atitude desesperada
Na ruína que inevitavelmente espreita
Eis que o vento parou…
Respiro.
Transpiro.
Estabilizo.
Flutuo…
Que paz…
Que sono…
Que bom…
Que quietude…
Quero ficar assim
A olhar para mim, assim…
Parado no ar
Em redor de mim mesmo
Só assim, aterrarei em plano seguro…
JP
segunda-feira, 3 de março de 2008
FUTURO
Os olhos de frente prá frente
Onde reina a ternura
Doce e tranquila
É para lá que vou, num passo combalido
Para trás ficam pegadas
De caminhos percorridos
Com firmeza nos vestígios
Marcas sublimes
Resistentes ao remorso
Estou a um passo de lá chegar
Levado pela força do passado
Onde não houve lugar para a mentira
Onde os redutos se cruzavam
E as emoções coincidiam
Vou lá chegar!
Estou tão estupidamente perto…
JP
PARTILHA
JP
domingo, 2 de março de 2008
SAUDADES
Saudades do encosto
Onde o rosto enroscava sentires
Onde os sentires enroscavam certezas
As tuas certezas... E que certezas...
As sábias, as que sempre questionei
As que se agigantavam
Perante a incredulidade da verdade
A tua verdade... A única verdade
Saudades do teu cheiro
Das tuas mãos...
E que mãos... Mãos de seda
De fino toque
Capaz de confortar o mais áspero dos sentimentos
Vou dormir ao teu lado, esta noite...
JP
LÁGRIMAS
Por quadrantes inesperados
Sopros que enxugam lágrimas
Que não querem ser choradas
Que só querem ser lembradas
Vidas cruzadas
Num tabuleiro sem regras
Onde as peças se movem
Num desgoverno apaixonado
Na eminência da queda
É na incerteza do sentido
Que encontro a certeza de sentir
Já o disse uma vez... Correu-me tão mal.
JP